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A Queda do Sacerdote

Viver na Umbanda sabemos não ser fácil, quiçá ser Sacerdote. Todos nós, os adeptos, temos um karma passivo a ser aniquilado e a nossa religião permite, com muita clareza e destreza, que esse seja fortemente vivido e potencialmente combatido. Todas as dores hão de ser dissolvidas e todas as tristezas, aniquiladas.

Devo ressaltar: tenho visto, desde há alguns anos, médiuns possivelmente aptos a adentrarem os meandros da iniciação, caírem devido à má e incauta condução de seu iniciador. Movidos pelo ego, pelo orgulho, pela vaidade, pelo egoísmo e pela inação, acabam por extirpar a vida espiritual de um filho seu. Vários são os desviados de sua promessa divina de cumprirem com exata precisão o compromisso que assumiram anteriormente e, por erros e deslizes do condutor, esses acabam por acumularem mais karma em débito nesta vida.

O discípulo precisa do Mestre assim como o Mestre precisa de seu discípulo, não é à toa que existe a máxima: quando o discípulo está pronto, o Mestre aparece e nessa troca de intenções e tarefas, o exercício do que foi prometido acontece.

O Sacerdote que não cumpre com louvor seu pacto com o Astral assume, após desencarnar, essa responsabilidade de esclarecer em tribunais kármicos, o que fez para que aquele médium disposto a exercer a tarefa, fosse declinado de seu caminho.

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Sobre o Silêncio


A maioria das pessoas tem dificuldade com o silêncio. Chega a ser assustador só o fato de permanecerem, sozinhos ou em grupo, com o vazio imperturbável.

Creio ser a dificuldade latente em entrar em contato com suas mentes tagarelas, seus corações ansiosos e o corpo físico que não clama por descanso. A intenção sublime de cessar os pensamentos, os sentimentos e as ações, dão lugar ao inquietante estado de agitação caótica e desordenada, que nada inicia, que nada continua, que nada conclui.

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Sobre o Amacy – O Ritual Sagrado da Lavagem de Cabeça (ORI), a Fixação e Consagração Mediúnicas

O Amacy é um Ritual propiciatório feito anualmente nas Casas, Templos, Terreiros, Choupanas etc, onde há a preparação mediúnica, cada vez melhor e por ele, dos ditos “aparelhos”, veículos que intermediam o Astral Superior no plano terreno, seja de qual mediunismo for.

O Amacy visa, primordialmente, o equilíbrio entre os corpos mental, astral e físico para que todos que o recebam, sejam providos das forças necessárias para atuar tanto no campo da realidade material, sensível, quanto no campo da realidade imaterial, suprassensível, de forma harmônica, proveitosa e definitiva. Imanência e Trascendência.

Esse é o Ritual que inaugura o ano letivo ritualístico da Casa, para que os médiuns estejam bem amparados e escudados por seus Mentores no plano natural e que Os faça valer, de verdade, nas Giras de Caridade e em sua própria vida. Relatarei como ocorre em uma das Tradições Esotéricas: o Amacy é feito sob a colheita de ervas solares (Orixalá – Senhor Primaz da Energia Espiritual) e Lunares (Yemanjá – Mãe de todas as Cabeças), e na lua positiva (crescente e nova), recolhidas para todos os 7 Orixás contemplados nesta Tradição (Oxalá, nascidos sob o signo de Leão; Yemanjá, sob o signo de Câncer; Yori, sob os signos de Virgem e de Gêmeos; Xângo, sob os signos de Peixes e de Sagitário; Ogum, sob os signos de Áries e de Escorpião; Óxossi, sob os signos de Touro e de Libra; Yorimá, sob os signos de Capricórnio e Aquário).

Cada médium com seu Orixá de nascimento, referido anteriormente, receberá o banho em seu Ori e com os erós (fundamentos) e awôs (mistérios) condizentes à Casa e onde durante 3 dias é necessária uma desintoxicação em relação à comida (não ingerir carnes), bebidas alcóolicas e contato relacional físico de alguma forma; isso tudo para que o médium esteja livre e desembaraçado de perturbações mentais, astrais e físicas. Além disso, há o banho ritualístico preparatório e invocatório 3 dias antes, obrigatório da cabeça aos pés, pois a todos os que passarão por essa “iniciação”, deverão prover-se de condutas éticas e morais rígidas para que a consagração tenha êxito.

O Fogo do Exu

 

Ouvi certa vez por Exu Sr…

O fogo tem três propriedades fundamentais na Umbanda: a de iluminar e aquecer, para os amigos; a de alertar e avisar, para os incautos; e, quiçá, a menos empregada, mas às vezes necessária, é de fulminar e destruir, para os opositores.

Muitos de nós pensa, que são apenas os inimigos externos – os outros -, que serão aniquilados, mas há um grande equívoco aí: os maiores males e imperfeições que Exu vem destruir residem justamente em nosso interior, tudo aquilo que nos impede, potencialmente, de alcançarmos a SABEDORIA na mente, através da ilusão, do erro, da confusão; de alcançarmos a BONDADE no coração, através da tristeza, do ódio, da negação ao bem; de alcançarmos a ATIVIDADE no corpo, através de toda a sorte de prisões como automatismos, condicionamentos, preconceitos. Tudo isso Exu considera nocivo e extirpador de qualquer atividade saudável nos 3 organismos básicos do ser humano (mente, coração e corpo).

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Sejamos um conta gotas!

 

Muitos de nós pauta suas vidas nos acontecimentos muito imprecisos e muito imediatos e se esquece de que, para a caminhada ser efetiva e eficaz, precisa criar raízes. Precisa de tempo, precisa de espera paciente.

Toda planta necessita de adubo para florescer, de água para ramificar, de Sol para fotossintetizar e de tantos outros fatores naturais que não são acelerados quando da sua ordem natural e biológica.

Certa vez, ao tomar um remédio com um conta gotas (talvez o apelidasse de conta horas) pensei em como pautamos, por vezes, nossas vidas em resultados imediatos e urgentes, esses, em sua maioria, sem precisão cirúrgica. É 8 ou 80. Agora ou nunca! Vai ou racha! Não inventamos modo algum de desenvolvimento paulatino, é sempre tudo tão urgente! Tudo tão atropelado, tudo tão desastroso.

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O que é Inteligência Emocional?

Dizem que o caráter de uma pessoa se forma através de experiências vividas profundamente e, que sendo assim, tem a capacidade de moldar o seu ser e a sua inteligência emocional.
Inteligência Emocional é um termo muito discutido atualmente.Mas o que vem a ser isso?

Entre tantas definições, a mais simples e que é um conceito em Psicologia, descreve a capacidade de reconhecer e avaliar os seus próprios sentimentos e os dos outros, assim como a capacidade de lidar com eles construindo relações saudáveis e fazendo escolhas conscientes. Quem tem Inteligência Emocional sabe pensar, sentir e agir de forma inteligente e consciente, sem deixar que as emoções controlem sua vida e se acumulem de forma a reproduzir ou criar traumas.

A Inteligência Emocional age diretamente no cérebro emocional dos indivíduos, buscando as raízes mais profundas na vida da pessoa, neutralizando as emoções negativas que produzem comportamentos destrutivos e potencializando as emoções positivas para gerar resultados desejados.

Racionalmente, ninguém escolheria ser ansioso, depressivo, explosivo ou ferir alguém que ama, mas a maioria das pessoas faz isso constantemente.

De modo geral, isso acontece porque o cérebro emocional é muito mais rápido que o cérebro racional. Enquanto as emoções levam o ser humano à ação, sua razão continua pensando e analisando. Nesse sentido, uma pessoa com emoção exacerbada e em desequilíbrio, facilmente entra num processo de agressão ou autoflagelo.

A Inteligência Emocional é composta por uma série de habilidades que possibilitam uma vida mais equilibrada. Ao desenvolver competências como o autoconhecimento, por exemplo, é possível conseguir um reconhecimento dos seus comportamentos, limitações e habilidades. O autoconhecimento é um dos pilares fundamentais para desenvolver a Inteligência Emocional e, assim, permitir que o indivíduo olhe para as próprias emoções e entenda como são suas reações diante de cada uma delas.

Citaremos aqui algumas dicas para desenvolver o autoconhecimento:

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A Capoeira e seus Aspectos Religiosos

Falar de Capoeira é falar de uma luta que se dança e que expressa movimentos que de alegoria nada tem.

No decorrer da história da nossa humanidade podemos encontrar momentos em que o “muro infinito” que separa as realidades inexistia e o homem possuía claro contato e entendimento dos mistérios que o envolvia até que em dado momento, movido pelo orgulho e por outros sentimentos negativos, o homem acaba trazendo para si as vantagens de seus conhecimentos esquecendo os reais objetivos e valores do Sagrado; dado o feito se criaram as ciências ocultas como forma de preservar o conhecimento original, ciências essas nas quais várias religiões beberam, e bebem, se mantendo assim até hoje. A música, a dança, as pinturas, as cantigas, são codificações do Sagrado e nessa perspectiva a capoeira também é uma codificação, ou para alguns decodificação, do Sagrado que se manifesta através do movimento, do som, e também da luz já que se analisarmos os princípios básicos da criação do universo veremos que luz, som e movimento são reações conjuntas sendo que dentro da capoeira a luz estaria presente na honra, na ética e na seriedade com as quais a capoeira se expressa.

A Capoeira tendo nas origens de seu surgimento a cultura afro-brasileira, além de outros elementos que a compõe, possui a religiosidade como um dos pilares de sua base. Aqui vamos nos ater nos pontos de contato da Capoeira com os terreiros considerando-se as práticas religiosas existentes hoje no Brasil, do Candomblé á Umbanda.

Na prática da Capoeira destaca-se a musicalidade por meio dos cantos, das ladainhas e dos instrumentos conhecidos como o berimbau, atabaque e pandeiro, tocando em harmonia para marcar o ritmo do jogo demonstrando estreita relação com aspectos religiosos afro-brasileiros. Nos terreiros de fundamento, nos ensina a tradição, encontramos o trio de atabaques, Rum, Rumpi e Lê, tocando em harmonia, cada um ao seu toque específico mas todos numa comunhão de significados.

Infelizmente alguns grupos de Capoeira moderna perderam esta harmonia na qual o berimbau, o atabaque e o pandeiro deveriam, cada qual em suas variações, formar uma melodia perfeitamente encaixada, que se traduziria em uma musicalidade formada de sons estéreos.

É muito comum hoje observarmos os três instrumentos da Capoeira tocando de forma igual, o canto fora de tom e o jogo num passo totalmente fora do ritmo. Se avançarmos mais um pouco para algumas tradições da nossa Umbanda também poderemos chegar a um paralelo no qual vemos os cursos de curimba ensinando que os três atabaques devem soar em tons iguais e no mesmo ritmo. Neste ponto já podemos formar um paralelo com os toques de Nação que se encaixam em um só; ritmos que, apresentados em suas variações, constituem a essência do toque, canto e dança. Continuar lendo

As Tradições e Escolas Iniciáticas: algumas reflexões

Ao longo da história, sempre existiram pessoas e grupos que se organizavam em torno de um objetivo comum: o autoconhecimento e o desenvolvimento espiritual.

Num passado longínquo, havia uma comunicação direta entre o mundo físico e o espiritual, onde se obtinha o conhecimento. No entanto, com o passar dos dias, tais saberes começaram a ser utilizados de forma deturpada, provocando o fechamento da tela etérica do ser humano, criando uma barreira para comunicação entre as dimensões, preservando o conhecimento. Dessa forma, surge o caminho iniciático, um processo de resgate do divino e das leis cósmicas. No entanto, também não estamos querendo dizer que no passado, antes de tal bloqueio de comunicação, não existisse o caminho iniciático, porém sua concepção era diferente da concepção moderna que temos sobre tal processo.

De forma sintética, podemos afirmar que as energias ou seres que conduzem a evolução humana decidiram então velar estes conhecimentos, revelando-os apenas àqueles que os utilizassem de forma altruísta. Sendo assim, o conhecimento das leis divinas foi preservado por meio de códigos. Assim, surgem as denominadas tradições e escolas iniciáticas ou de mistérios.

Importante notar que cada senda do ocultismo, ao longo da história, edificou-se com métodos que atendessem a necessidade de seus praticantes. Portanto, dentro das ditas escolas iniciáticas encontraremos diversos métodos de desenvolvimento, porém todos concatenados, de forma que a iniciação em seus mistérios realmente conduzam o adepto para a elevação espiritual.

Conforme aponta Dion Fortune, em sua obra intitulada “A Cabala Mística”:

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A Umbanda e o Sincretismo Religioso

Quando a diversidade de costumes, crenças e tradições de diferentes povos foi trazida ao Brasil, deu origem ao que hoje conhecemos como a cultura brasileira, mesclada e diversificada.

Essa mistura se reflete nas diferentes áreas da tradição de nosso povo, mas neste texto, será dada maior atenção ao que chamamos de Sincretismo Religioso.

O que é o sincretismo religioso?

Quando os povos negros foram trazidos da África pelos navios portugueses carregaram consigo sua própria cultura e tradição que, durante o cativeiro nesta terra que lhes era estranha, acabaram por mesclar-se e confundir-se com a cultura dos nativos que aqui viviam e posteriormente com a religiosidade dos próprios colonizadores.

Três eram os grandes grupos etnolinguísticos forçadamente trazidos às terras conquistadas por Portugal: os Bantu (majoritariamente oriundos de Angola e Congo), os Nagôs (Togo e Benim) e os Jeje em menor número (também Benim, antigo reino conhecido como Daomé). Cada um desses grupos etnolinguísticos eram formados por diferentes povos que possuíam crenças muito parecidas. Na verdade, as três grandes nações possuíam divindades interessantemente semelhantes e esse pode ser um dos motivos pelos quais estas foram, não sincretizadas propriamente falando, mas assemelhadas.

Citaremos os diferentes tipos de divindades relativas aos credos de cada nação:

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O Caminho da Iniciação na Umbanda

O Templo da Estrela Verde – T.E.V. conduzido pelo Mestre Raiz Obashanan(William Oliveira) entende a Iniciação como sendo o meio mais rápido do Homem ir em busca da Realidade (Espírito). Entendemos como realidade absoluta o espírito eterno e atemporal, a origem de tudo. A Iniciação, e todos os rituais pertinentes a ela, visa despertar a consciência e, gradativamente, fazer o indivíduo encontrar sua essência (espírito), através do Orixá Ancestral que o coordena.

Muitos Irmãos de Fé podem questionar se estamos inferindo que o processo de evolução só existe dentro dos Templos Umbandistas Iniciáticos (Umbanda Esotérica), para esses respondemos que NÃO. Toda Humanidade evolui e está em franco processo de amadurecimento espiritual, ainda que de forma rudimentar, pois é fato indiscutível que os homens da atualidade encontram-se distanciados dos valores espirituais e por esse motivo a evolução tende a ocorrer de forma mais lenta. Dedicar a vida apenas e diretamente às coisas passageiras, transitórias, os leva às superficialidades e alienação dos valores espirituais, ou seja, NASCEM, CRESCEM E MORREM de maneira automática vivendo na expectativa apenas de satisfazer seus desejos materiais armazenando bens perecíveis que não os levarão para outras instâncias. Ao contrário dos homens ordinários (consideramos homens ordinários aqueles que vivem de forma automática), o iniciado vive de forma consciente abdicando de valores mundanos e apegos que escravizam o Espírito; de forma mnemônica podemos ver este aspecto sendo representado na figura dos Pretos Velhos Escravos, fazendo o indivíduo lembrar-se da escravidão do Espírito Preso à Matéria, escravidão essa que deve ser abolida para que o espirito livre dos desejos materiais possa alçar voos sempre maiores em busca da liberdade real. Grandes Homens tentaram levar ao homem o entendimento de sua ORIGEM (inicio) e para isto romperam as barreiras do Templo Físico para adentrar no Grande Templo Planetário e Cósmico, resgatando a Universalidade do Homem e do Conhecimento. Poderíamos citar: Hermes, Jesus, Moisés, Rama, Krishna, Buda, LaoTsé, Yurupari, Pítagoras, entre outros; Todos esses entendiam que o conhecimento é único sendo que quem o diferencia são as humanas criaturas que lhe marca, ou o expressa, com suas características regionais e de acordo com seu grau de entendimento.

Assim, o Templo da Estrela Verde está de comum acordo com as palavras do Grão Mestre W. W. da Matta e Silva (Mestre Yapacani), quando o mesmo fala: ‘’Umbanda é a Lei Mater que regula os fenômenos das manifestações e comunicações entre os Espíritos do Mundo Astral e o Mundo Natural” e continua dizendo “devemos respeitar todos os graus de entendimento das humanas criaturas’’.

Para compreender o caminho iniciático é necessário entender que a Iniciação possui graus de aprofundamento diferentes e por essa razão teremos Iniciados em vários níveis que vão desde o superficial até o essencial, no entanto, a fase inicial pela qual passam os aspirantes á Iniciação são basicamente as mesmas diferindo pouco de uma pessoa para outra já que o domínio e “Morte do EGO’’ constitui-se um dos principais (se não o principal) objetivo da caminhada iniciática de modo geral. Assim temos que para ser iniciado não basta simplesmente bater a porta do Templo, é preciso muito mais; é necessário que demonstre ter condições de ultrapassá-la, afinal, a Iniciação só é dada para aqueles que estão karmicamente afeitos a ela e estando deverão conquistá-la com o preço de sua busca e encontro pessoal. Essa conquista, bem o sabemos, é delicada até mesmo em sua concepção por parte do aspirante á Iniciação, afinal, nada seria mais lógico para o aspirante do que desejar voar para a condição de Iniciado sem grandes esforços; Assim poderíamos traçar aqui como se desenrola normalmente os primeiros passos do aspirante para que se possa ter uma noção do quão delicado, mas importante, é o caminho da Iniciação.

 

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