Falar de Capoeira é falar de uma luta que se dança e que expressa movimentos que de alegoria nada tem.
No decorrer da história da nossa humanidade podemos encontrar momentos em que o “muro infinito” que separa as realidades inexistia e o homem possuía claro contato e entendimento dos mistérios que o envolvia até que em dado momento, movido pelo orgulho e por outros sentimentos negativos, o homem acaba trazendo para si as vantagens de seus conhecimentos esquecendo os reais objetivos e valores do Sagrado; dado o feito se criaram as ciências ocultas como forma de preservar o conhecimento original, ciências essas nas quais várias religiões beberam, e bebem, se mantendo assim até hoje. A música, a dança, as pinturas, as cantigas, são codificações do Sagrado e nessa perspectiva a capoeira também é uma codificação, ou para alguns decodificação, do Sagrado que se manifesta através do movimento, do som, e também da luz já que se analisarmos os princípios básicos da criação do universo veremos que luz, som e movimento são reações conjuntas sendo que dentro da capoeira a luz estaria presente na honra, na ética e na seriedade com as quais a capoeira se expressa.
A Capoeira tendo nas origens de seu surgimento a cultura afro-brasileira, além de outros elementos que a compõe, possui a religiosidade como um dos pilares de sua base. Aqui vamos nos ater nos pontos de contato da Capoeira com os terreiros considerando-se as práticas religiosas existentes hoje no Brasil, do Candomblé á Umbanda.
Na prática da Capoeira destaca-se a musicalidade por meio dos cantos, das ladainhas e dos instrumentos conhecidos como o berimbau, atabaque e pandeiro, tocando em harmonia para marcar o ritmo do jogo demonstrando estreita relação com aspectos religiosos afro-brasileiros. Nos terreiros de fundamento, nos ensina a tradição, encontramos o trio de atabaques, Rum, Rumpi e Lê, tocando em harmonia, cada um ao seu toque específico mas todos numa comunhão de significados.
Infelizmente alguns grupos de Capoeira moderna perderam esta harmonia na qual o berimbau, o atabaque e o pandeiro deveriam, cada qual em suas variações, formar uma melodia perfeitamente encaixada, que se traduziria em uma musicalidade formada de sons estéreos.
É muito comum hoje observarmos os três instrumentos da Capoeira tocando de forma igual, o canto fora de tom e o jogo num passo totalmente fora do ritmo. Se avançarmos mais um pouco para algumas tradições da nossa Umbanda também poderemos chegar a um paralelo no qual vemos os cursos de curimba ensinando que os três atabaques devem soar em tons iguais e no mesmo ritmo. Neste ponto já podemos formar um paralelo com os toques de Nação que se encaixam em um só; ritmos que, apresentados em suas variações, constituem a essência do toque, canto e dança. Continuar lendo